Policiais são investigados por registrar boletins com falsos crimes para facilitar desvios de carga, no PR
18/11/2025
(Foto: Reprodução) Cinco policiais militares são afastados em operação contra desvio de cargas em Londrina
Policiais estão sendo investigados pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) por registrar boletins de ocorrências com falsos crimes para facilitar desvios de carga. Os registros noticiavam supostos roubos de cargas, que posteriormente eram desviadas e receptadas por empresários.
Nesta sexta-feira (18), durante a terceira fase da Operação Mar Vermelho, cinco policiais militares do Paraná e um da Polícia Civil de São Paulo foram afastados das funções.
Um PM paranaense da reserva e outro que já havia sido excluído da corporação por praticar o crime de descaminho, também foram alvos da operação. Também houve o afastamento profissional de um advogado que havia atuado como PM quando os crimes foram cometidos.
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O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Londrina, no norte do Paraná, cumpriu 25 mandados de busca e apreensão. Foram apreendidos documentos, mídias e eletrônicos.
Além disso, foram cumpridos 18 mandados de medidas cautelares, incluindo a suspensão do exercício da função pública dos policiais, a proibição do uso de fardamento e armamento – da corporação ou particular – e a suspensão de acesso aos sistemas de investigação policial.
Os investigados também estão proibidos de sair da cidade onde vivem sem autorização judicial e de manter contato entre si e com testemunhas.
Durante a operação, fardas e objetivos policiais dos agentes foram recolhidos e levados e a sede do Gaeco. Os nomes dos policiais não foram divulgados. Eles seguirão afastados até o término da investigação.
As ordens judiciais foram cumpridas em Londrina, Cambé, Ibiporã, Arapongas, Guarapuava, Matinhos e Curitiba, além de Mairiporã e São Paulo, e Joinville, Itapoá e Caçador, em Santa Catarina.
A ação também contou com o auxílio da Polícia Civil do Estado de São Paulo e da Corregedoria da Polícia Militar de Londrina, que atua em conjunto com o Gaeco desde o início da investigação, em 2021.
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Policiais militares do PR e um policial civil de São Paulo foram alvos da 3ª fase da Operação Mar Vermelho.
MP-PR
Grupo criminoso era dividido em três núcleos
A partir da análise de dados bancários, fiscais e telemáticos, o MP descobriu que o grupo criminoso era dividido em três núcleos: operacional, envolvendo motoristas de caminhão; receptador, com a ação de empresários; e o policial.
Veja como o esquema funcionava:
Um motorista do grupo carregava a carga e, em seguida, repassava o caminhão para um segundo motorista, que entregava o produto ao receptador;
O primeiro motorista fingia ser vítima e ia até uma delegacia ou posto policial, onde policiais militares ou civis integrantes do esquema o aguardavam para registrar o boletim de sobre o falso crime de roubo;
O líder do grupo recebia os valores dos receptadores e realizava transferências bancárias para os intermediários do núcleo policial.
A investigação apurou os policiais integrantes do esquema recebiam valores aproximados de R$ 5 mil para fazer o serviço.
Conforme o comandante do 2º Comando Regional da Polícia Militar, Juarez Saldanha, os policiais atuavam na região de Londrina e os crimes foram praticados entre 2021 e 2022.
De acordo com o promotor José Paulo Montesino, o boletim de ocorrência existia, mas era ideologicamente falso, pois o roubo não tinha acontecido.
"Havia um primeiro motorista que pegava a carga lícita, em um local adequado e entregava a carga para um segundo motorista, que levava a carga a um receptador que já havia comprado essa carga de maneira ilegal. Durante esse processo, o primeiro motorista lavrava um boletim de ocorrência, como se tivesse sido roubado e o registro era feito justamente por esses policiais que foram alvo da operação. [...] Após essa situação, o receptador efetuava o pagamento pela compra da carga que foi desviada de maneira simulada e havia um outro membro da organização que pegava esse dinheiro e distribuía entre os envolvidos", explicou o promotor.
Mandados foram cumpridos no Paraná, São Paulo e Santa Catarina.
MP-PR
Montesino também explicou que, além dos policiais, várias empresas estão envolvidas do caso, tanto as que entregavam a carga, quanto as que recebiam. O valor das mercadorias desviadas ainda não foi totalmente contabilizado, conforme o promotor.
Ele explicou que os investigados vão responder pelo crime de integrar organização criminosa, falsidade ideológica e receptação. O Gaeco vai continuar investigando o caso, a fim de analisar os materiais apreendidos, para, posteriormente, oferecer denúncia contra os suspeitos.
Conforme o comandante da PM, os policiais também vão responder em um processo disciplinar na corporação.
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